quinta-feira, 26 de abril de 2012

Um dia de Abril, o vigésimo quinto

Não vou comentar o dia cinzento, a chuva miudinha, a queda de Madrid, a procura de diesel a baixar e o preço a subir ou a ilusão da transparência dos mercados, a liberdade de dizer...

1- A propósito da situação da educação em Portugal, vou deixar-vos com duas frases de
  Luiz da Silva Mousinho de Albuquerque em "Idéas sobre o estabelecimento da instrução pública", 1823

"… O primeiro cuidado dos representantes da nação, depositários da confiança de um povo livre, deve ser dissipar as trevas e fazer raiar o mais cedo e o mais amplamente possível, a luz brilhante da vontade própria, para patentear toda a beleza da liberdade e da justiça…"

“... É que entre a pureza espontanea do grito consciencioso e a realidade do facto que o sanciona interpõe-se, seja-nos lícita a expressão, um agente mexeriqueiro: o interesse do indivíduo ou da classe, mas sempre o interesse...

2- A propósito da revisão curricular deixo-vos com uma obra prima do discurso parlamentar plasmado em diário oficial no preâmbulo da regulamentação de 1921 do ensino público:

“... A especialização aqui exerceu, na melhor das intenções, uma influência prejudicial. Cada um prègava a preponderância das disciplinas da sua lavra. Estes, os clássicos, o benefício espiritual e cultural das humanidades. Outros, os últimos chegados, falando do outro lado da barricada, queriam que, em vez de tanta cerebração extenuante, se atendesse imperiosamente à musculatura e à revigoração do aluno. E como a todos assistia razão, cada um pretendia a parte de leão nas horas e nos programas dos liceus, e muito – muito para o latim, já que não podia ser o grego, para as literaturas, para a educação humanística, - muito para a matemática, para a física e química, para as naturais, para a biologia, para a riqueza da educação positiva, - muito, quanto pudesse ser tirado para os exercícios corporais, para a gimnástica sueca, para a educação física. Todos estes muitos se ajeitaram, mais mal que bem, atravancando os horários, inchando os programas, retendo o aluno nas aulas o dia inteiro. Uma inflação a mais.

Como todo o órgão tem defesa protectiva de capacidade funcional, o cérebro da criança busca eximir-se à fadiga; repuxado por todos os lados, sem pausa nem repouso, perde a atenção e a retentiva, subtrai-se à inquisição penosa. Tal foi o remate duma pedagogia temerária no seu excesso.

Há, pois, que comprimir, e fortemente, custe o que custar – compressão nas horas seguidas e nos programas exuberantes, compressão na própria duração do ciclo liceal. Há que humanizar, diga-se assim, o ensino, reduzi-lo às condições humanas da psicologia e da vida individual e social. Atalhe-se à indigestão actual; ensine-se menos para se saber mais. Ouça-se a filosofia popular, que afirma que quem muito abrange pouco aperta....”

Portanto, posso concluir que retrocedemos a 1921 e o fundamento político já estava identificado em 1823!

26 de Abril será luminoso!


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